sexta-feira, 16 de agosto de 2013

OS 250 ANOS DA TRAGÉDIA DO NYENBURG!

A história do período colonial na região do Cerrado Potiguar é pouco estudada. Os fragmentos dessa história foram resgatadas por poucos historiadores. Talvez o principal deles foi o tourenses Nilson Patriota. No ano passado descobri um livro indicado pelo sebista potiguar Abimael Silva, considero o livro um dos primeiros relatos sobre a atual região de Rio do Fogo, conta a trajetória de um grupo de holandeses amotinados que desembarcam em nosso litoral há exatos 250 anos! O navio era o "Nyenburg" que pertencia a Companhia das Índias Orientais e zarpou do porto de Texel na Holanda em 8 de maio de 1763. Estava sob o comando do capitão Jacob Ketel. O navio passaria pelo cabo da Boa Esperança em direção a Ásia. Seus tripulantes eram formados por holandeses e alemães que foram destacados para guarnições ultramarinas.
 Réplica de uma navio holandês do século XVIII. Fonte da imagem:

Após uma discussão provocada pelos maus tratos dos oficiais, os tripulantes amotinaram-se na noite de 14 de junho de 1763 na altura das ilhas de Cabo Verde na África. Os revoltosos saquearam duas caixas que tinham onze barras de ouro e 10 mil ducados, impuseram como comandante o amotinado Johann Gottfried Wolmar e levaram a embarcação em direção a Bahia. Quase dois meses depois, a embarcação encalhou nos baixios de São Roque, nos atuais parrachos de Maracajaú e Rio do Fogo, desceram numa chalupa e um bote em torno de 64 homens e fugiram para a costa potiguar. O Nyenburg conseguiu zarpar dos baixios e seus oficiais levaram a embarcação para o porto de Caiena na Guiana Francesa. 
Os amotinados passaram a noite em um "mucambo" (seria um quilombo?) de negros na praia das Garças em Touros. Auxiliados pelos negros, foram informados que a 10 milhas ao sul existia um povoado chamado Mato do Caboclo(Kabrokke) e a cinquenta ou sessenta milhas mais além chegariam a Natal, sede administrativa da Capitania do Rio Grande do Norte.  O topônimo "Mato do Caboclo" é inexiste na região entre Touros e Rio do Fogo, mas no mapa censitário de 1872 registrava como sendo a localidade a beira do Rio do Fogo, vizinha a "Barreira do Inferno". Provavelmente Rio do Fogo tinha esse topônimo para os navegadores da época.
Trecho selecionado do mapa censitário de 1872 da Província do Rio Grande do Norte. Mato do Caboclo pode ser Rio do Fogo?

O grupo dos revoltosos levaram três negros como guias e foram em direção à Natal. Caminharam por horas, foram atingidos por bichos de pé e pela ardência do sol. No dia 5 de agosto, chegaram em Rio do Fogo (Mato do Caboclo) em uma grande casa, cujo os moradores os acolheram e venderam alguns cavalos, passaram um bom tempo pois se divertiram com as mulheres do lugar. Dando continuidade atravessaram o rio Punaú, que segundo os relatos era abundante em onças e outros animais ferozes. Dias depois chegaram a foz do rio Maxaranguape, sendo atravessado por  jangadas e no dia seguinte chegaram em Natal. Foram recebidos pelos capitão-mor na Fortaleza dos Reis Magos, Joaquim Félix de Lima.  Um interlocutor português serviu de interprete entre os holandeses e o capitão-mor e informou que eles eram náufragos e tinha apenas dinheiro e uma pequena quantia em ouro.

Os holandeses ficaram em Natal e fizeram muitas amizades com a população da época. Descreve-nos uma testemunha: "Primeiramente trataram de comprar e de mandar fazer vistosos chapéus, em seguida procuraram mulheres com quem conviver, e como os respectivos pais os tivessem na conta de gente leal, honesta e sisuda, alguns chegaram a se aboletar nas suas casas, onde passavam vida farta e jovial. Chegando de uma feita a certa casa e vendo uma corneta pendurada na parede, compraram-na por bom dinheiro e tocaram-na alegremente, enquanto os outros dançavam e pulavam. As raparigas mostravam-se muito amáveis e carinhosas para com os rebeldes, o que não era de admirar, porquanto estes lhes prodigalizavam ducados e pedaços de ouro, não sendo raro pagarem oito ducados por uma noite de gozo. Assim viviam todos os dias e alguns chegaram a se apaixonar pelas suas amantes ao ponto de as quererem desposar, e neste proposito continuarem, como marido e mulher, vivendo e dormindo juntos. Mas os casamentos não se podiam realizar, porque o capitão-mor efetivo do Rio Grande estava ausente, e o seu substituto interino comunicou aos rebeldes que, se queriam casar e ali fixar residência, deviam dirigir-se ao capitão-general, em Pernambuco, que também tinha jurisdição sobre o Rio Grande". 
Em 25 de agosto, seguiram para Recife oficializar os casamentos, deixaram a maior parte do seu dinheiros com os pais das noivas em Natal. Chegaram em Pernambuco em 2 de setembro, mas foram delatados  e presos pela participação do motim. Os chefes Croos, Wolmar e Cramer foram postos a ferros e trancados em celas separadas, Os outros colocados em uma cela comum. Foram ouvidos e repassados para Lisboa e de lá retornaram para Holanda. No mesmo porto de origem, Texel, foram condenados ao açoite, foram marcados com ferro em brasa e condenados as galés perpétuas e os líderes enforcados.
Fonte: Alfredo de Carvalho. Estudos Pernambucanos, Recife,1907.

Pedro Pinheiro de Araújo Júnior


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